Ângela's
“E o carro arrancou, deixando visível somente o rastro de poeira acinzentada e densa.” Foi assim que decidi terminar mais um dos meus contos policiais medíocres. Minha cabeça latejava e os olhos ardiam como um castigo. O tempo divagou e ainda eram nove da noite. Não consegui pensar em um final melhor com todo esse barulho nas ruas. Como nota mental prometi reler o conto e bolar um desfecho mais criativo depois, mesmo sabendo que seria um martírio. Ando num inferno criativo e já estou a ponto de enlouquecer com isso.
Nunca fui de me cobrar quando minha mente não cuspia idéias relevantes para minhas histórias, mas agora era diferente. Com um contrato numa revista semanal tinha a obrigação de escrever ao menos dois contos por semana para que a editora escolhesse um a ser publicado. Condição essa que não estava mais suportando, pois nunca tive problemas com bloqueio mental e não sabia como lidar com essa praga.
Durante uma hora e meia perambulei pela casa só de me de meias, escorregando os pés na cerâmica lisa. Esse sempre foi meu passa-tempo predileto. Alguns bebem, outros se masturbam, eu gostava de andar só de meias pela casa para relaxar, mas a dor de cabeça não passava e a cabeça martelava outros problemas infames. Foi quando o telefone tocou. Não atendi, poderia ser alguém indesejado, aliás, naquele momento qualquer pessoa seria indesejada. Esperei cair na secretária eletrônica.
Olá, aqui e da casa do Mauro, agora não posso conversar. Esse aparelho vai emitir um piii, deixa teu recado logo após ok?! Piii... Mauro sou eu, Ângela. Tenho pensado muito na gente. Não deveria ter sido assim, sabe? Ainda te quero. Um beijo.
Não senti a mínima vontade de atender ou de retornar a ligação. Ângela era uma mulher linda e inteligente com quem eu namorei por dois anos, mas a relação acabou ficando muito séria pro meu gosto. Ciúmes e possessividade foram os principais motivos para eu ter dado um basta nessa história. Assim como o meu conto, não foi um final dos mais criativos. Não sei direito o que sinto por ela e talvez eu possa me arrepender de ter feito isso. Me recusei a pensar no assunto, mas essas coisas são como um apelido indesejado que colocam em você, quanto mais você retruca mais ele pega. Dito e feito. Passei mais um bom tempo tentando me distrair. Coloquei um disco dos Doors, mas boa parte das músicas me lembrava Ângela. Analisando friamente, quase tudo no meu apartamento me trazia uma lembrança dela e essas lembranças iam aderindo em mim cada vez mais. Os objetos na estante, os discos de Vinicius, o incenso de ópio que eu adorava... Foi ai que me veio à vontade de ligar pra ela, ouvir sua voz, convida-la pra fazer amor pelo telefone. Me senti ridículo tentando superar a saudade com um momento de prazer mórbido que talvez só piorasse as coisas.
As paredes me sufocavam e me levaram a sair de casa às onze da noite, coisa que eu nunca faço. Peguei um táxi que seguiu sem destino certo. O rádio estava sintonizado numa estação tipo Antena 1 e tocava um flashback dos anos 80. Me senti um pouco mais tranqüilo observando a cidade que passava rapidamente diante dos meus olhos. Reparei que o taxista me olhava constantemente pelo espelho retrovisor então decidi parar quando ele passava pelo centro.
Já não havia muita gente nas ruas e a cidade se apresentava hostil com quem andava por ali. Talvez só eu percebesse isso, pois naquela rua só havia bêbados punks e putas. No fim da rua havia um bar chamado “Ateu”, gostei do nome e decidi entrar.
O ambiente contrastava com o meu visual nerd. Todos ali pareciam estar fantasiados. Jaquetas de couro e cabelos moicano eram a ultima moda no local, mas incrivelmente o som ambiente era um blues, o que me agradou de cara. Sentei numa das mesas de madeira nos fundos e pedi uma cerveja. Esperei observando os detalhes do lugar. Era um pub à brasileira, com sinuca e fliperama, mas tudo bem meia boca.
Depois da segunda cerveja eu já estava totalmente adaptado ao ambiente. Aqueles adolescentes cheios de piersings e tatuagens já não me causavam receio e até reparei que havia algumas garotas interessantes. Me arrependi de não ter telefonado para algum amigo, convidando-o para beber e conversar. Nunca fui de beber sozinho.
Fiz sinal para o garçom, pedindo mais uma. Não demorou para trazer. Disse a ele que ficasse de olho na mesa, ia mijar e voltava logo. O banheiro era um cubículo fétido, cheio de desenhos e pichações. Nenhuma surpresa. Mijei de olhos fechados curtindo o prazer do momento. Ao terminar olhei para o meu pinto despejando as ultimas gostas. Estava murcho e sem graça, rodeado de pelos enormes que Deus sabe quando foram aparados. Ah Macgyver eu queria te tratar com mais carinho, te dando comida todos os dias, mas isso é uma coisa que não depende só de mim, amigo. Macgyver é o nome do meu pinto. Batizei-o inspirado no protagonista de uma série americana dos anos 80 chamada Profissão perigo. Vocês bem que devem se lembrar. Acho que esse nome tem tudo a ver com ele, pois não consigo trepar com camisinha o que torna o trabalho do meu amigo desossado uma profissão de risco.
Ao sair do banheiro notei de longe que a minha mesa estava ocupada. Era uma mulher sozinha. Caminhei lentamente a fim de encontrar o garçom no caminho e transferir a responsabilidade para ele, mas ele parecia ter evaporado. Me aproximei lentamente simulando certa distração. Me desculpe, eu estava sentado aqui, só levantei para ir ao banheiro. Ela estava de cabeça baixa acendendo um cigarro e demorou um pouco para demonstrar reação. Fiquei pensando se não fui um tanto rude com as palavras. Ela levantou seu rosto e me olhou sorrindo. Achei muito interessante seus traços orientais, cabelos muito escuros, longos e lisos e rosto afilado. Não tinha uma cara chata e redonda que a maioria das orientais tem. Ai desculpa, é que o bar ta lotado, sentei aqui pensando que você tinha ido embora. Agora vou penar pra achar um lugar pra sentar.
Me agradava muito à possibilidade que o acaso me dera de me unir àquela garota para conversar, flertar e quem sabe até por o Macgyver em mais uma missão arriscada. Mas a minha timidez me impedia de propor que dividíssemos a mesma mesa, então fiquei sem ação, com uma cara de “e agora?”. Foi aí que ela tomou a iniciativa, dizendo que só iria tomar um drink pra relaxar depois do trabalho. Perguntou se era muito incomodo pra mim que sentássemos juntos, com um sorriso irresistível no rosto.
Sentei ao seu lado meio temeroso, pois não queria demonstrar que estava altamente satisfeito com aquela condição. Enchi meu copo e ofereci-lhe cerveja. Ela negou simpaticamente, dizendo que o garçom estava vindo com seu Martini. Não demorou e ele trouxe o Martini servido numa taça afunilada com um guarda-chuvinha. Quando saia olhou pra mim com um sorriso sacana, demonstrando que percebeu toda a situação, o que me levou a desconfiar que até pudesse ter responsabilidade pelo acontecido. Não resisti e retribuí com uma piscadela.
Antes que o silêncio se tornasse insuportável ela começou: Nunca te vi por aqui antes. É a primeira vez que você vem aqui, certo? Sim, entrei aqui por acaso. Gostei do nome do bar. Terminei a frese com um sorriso amarelo de vergonha, ela poderia ser religiosa e essa seria a minha primeira bola fora da noite. Também acho bem descolado esse nome. Dar um ar comunista no ambiente. Concordei com a cabeça. Então você freqüenta o local há muito tempo? Perguntei. É eu trabalho por aqui. Sempre que posso venho aqui pra relaxar. Aqui sempre toca música boa e o pessoal apesar de se vestir estranho é super tranqüilo.
Uma oriental comunista que bebe sempre depois do trabalho e curte blues, me parecia muito bom para ser verdade. A conversa começou a fluir com mais facilidade e aos poucos fui me soltando, também pela influência do álcool. Ela vestia uma blusa branca grudada no corpo que marcava o formato do seu sutiã meia taça e uma mini-saia de couro preta, muito sexy. Sempre que ela vacilava, eu passava a vista em suas coxas. Eram brancas e bem torneadas, uma delicia de se ver.
Demorou até que veio a pergunta clássica: O que você faz da vida? O tipo de pergunta que as pessoas fazem pra saber se você tem grana ou não, se merece respeito ou desprezo. Apesar dela ser uma graça não pude evitar o sarcasmo. Bem, eu faço tanta coisa. Penso, ando, durmo, transo, bebo, escrevo contos pra uma revista semanal entre outras coisas. Ela foi sagaz e me surpreendeu em duas coisas: não deu a mínima para a palavra “transo” que coloquei no meio dos meus afazeres de propósito, só pra ver a sua reação e percebendo que eu era escritor foi logo ao assunto grana sem rodeios. Eu sempre admirei quem tem o dom de escrever, mas, aqui pra nós, isso da grana bicho? Dei um longo gole na cerveja a fim de adiar pelo menos por alguns instantes a resposta. Vou ser sincero, nunca tive o sonho de escrever profissionalmente, nunca me vi lançando livro e dando palestras mundo a fora não, talvez por isso esteja satisfeito com o retorno financeiro que a literatura me da. Não sou formado em letras e escrever pra mim sempre foi um prazer, considerando isso, me sinto bem feliz por viver do que gosto de fazer. Dei outro gole longo na cerveja, satisfeitíssimo com o meu desempenho. Ela sorriu confirmando meu êxito. Deu-me um beijo no rosto e disse: pera vou ao banheiro.
Macgyver é hoje!! Puta merda, tirei a sorte grande! Nessas horas eu tendo a acreditar que esse lance de destino existe mesmo. Em circunstâncias normais eu nunca entraria num lugar como aquele, a vida é uma comédia mesmo. Tomei nota mental, reparar em seu corpo quando caminhasse de volta a mesa. De fato era linda, mais ou menos 1, 68 de altura e com um andar muito feminino. O jeito de andar é tudo pra mim.
Sentou-se e prendeu os cabelos deixando a mostra seu pescoço. Tinha um símbolo que supus ser japonês tatuado. O que significa? Perguntei. Prazer! Ela disse. Acariciei o símbolo sentindo sua nuca morna. Ela se agitou quando ouviu que tocava uma música da Billie Holiday. Isso merece um aditivo! Colocou a mão dentro da bolsinha de couro e tirou um baseado. Você curte? Eu não fumava desde os tempos de colégio, mas estava disposto a tudo naquela noite. Disse que sim, então ela acendeu.
Ela fumou um pouco e passou pra mim. Dei uma tragada potente e me lembrei da coisa que eu mais odiava na maconha, que eram as crises de tosse. Soltei toda a fumaça, tossi bastante até os olhos lacrimejarem. Ela soltou uma tremenda gargalhada, me fazendo sentir como um adolescente babaca. Deu vontade de me enterrar num buraco e nunca mais vir à tona.
Você conhece a “Peruana”? Respondi que não em meio às tosses. Eu dou um trago e solto direto na sua boca, assim você faz a cabeça e não vai tossir mais. Quer tentar? Respondi que sim com a cabeça, mesmo sem ter certeza se queria de verdade aquilo. Ela deu um longo trago, levou as mãos em forma de concha a sua boca e encostou na minha. Nossos lábios estavam separados somente pelas suas mãos. Eu podia sentir o seu perfume doce e o ritmo da sua respiração enquanto a fumaça divina adentrava os meus pulmões me trazendo uma sensação de paz absoluta. Aos poucos suas mãos foram desobstruindo o caminho que separava os nossos lábios e o contato foi se transformando em um beijo lento, macio e molhado.
Nossas línguas pareciam intimas, pois se moviam com tamanha sincronia, dançando juntas ao som do jazz. De quando em quando ela mordia de leve o meu lábio e o beijo rasteiro foi ficando mais profundo e agressivo. Acariciei com a ponta dos dedos as suas coxas enquanto ela me alisava as costas por debaixo da camisa. Coloquei a mão lentamente entre as suas pernas que se abriram amigavelmente e então fui me aprofundando até tocar o seu clitóris por cima da calcinha úmida. Ficamos assim por um tempo nos acariciando até que ela me apertou e eu pude sentir um leve tremor de suas pernas. Sua língua nesse momento foi fundo dentro da minha boca, então me abraçou forte com a cabeça encostada no meu ombro. Pareceu adormecer por cinco minutos inteiros.
Depois disso não houve dúvida. Pagamos à conta e pegamos o primeiro táxi com destino ao meu apartamento. Fomos o caminho inteiro nos beijando com fervor. Ela ria e continuava mais empolgada ao notar a expressão de espanto do taxista com cara de judeu.
Nem deu tempo de passar o pega-ladrão na porta e ela já foi me arrancando a camisa. Soltei as chaves no chão e ocupei as minhas mãos com as suas nádegas macias e fartas. Arrancamos mutuamente nossas roupas, sedentos por um contato direto dos corpos. Deitei-a no tapete da sala de estar, lambendo seu pescoço suado e acariciando seu clitóris levemente com o meu pênis. A vontade de consumar o ato perdeu para a curiosidade de explorar o seu corpo milímetro por milímetro, então desci mais e lambi carinhosamente seus seios. Eram perfeitos, cabiam perfeitamente na palma da minha mão. Os mamilos eram pequenos, mas proeminentes. Fartei-me nessa que era a minha parte preferida do seu corpo.
Tive a idéia de experimentar uma técnica oral que desenvolvi com Ângela e que ela ficava louca toda vez que eu a colocava em prática. Então desci lentamente até a sua vagina dando um profundo e molhado beijo de língua, fazendo com que o seu corpo se contorcesse liberando um gemido rouco, depois parti para as periferias, lambendo a virilha, as coxas e a barriga, sempre de tempos em tempos ameaçando um outro beijo profundo em sua vagina. Às vezes encostava minha boca a um centímetro do seu membro e a fazia sentir a minha respiração ofegante a ponto dela implorar por outra chupada, mas a técnica consistia em não ceder a esses apelos até o momento crucial. Então no momento certo enfiei minha língua dentro dela, fazendo-a liberar um gozo pleno. Agora sim, Macgyver tinha o Japão inteiro para explorar à vontade. E assim foi até as cinco da manhã quando pegamos no sono, satisfeitos.
Acordei com a luz do sol no meu rosto. Levantei sem norte, mas logo percebi que estava só. Examinei os outros cômodos para ter certeza e de fato ela já havia partido. No espelho do banheiro encontrei uma mensagem curta escrita com batom vermelho:
“Bom dia meu lindo, adorei a noite, mas infelizmente acho que foi a nossa primeira e única juntos. O que fiz com você ontem normalmente faço por dinheiro. Com você foi diferente, mas prefiro não me envolver. Se cuida. Beijos da sua Ângela.”
Ao final da mensagem não sabia se ria ou se chorava. Havia me apaixonado por uma prostituta com o mesmo nome da mulher que eu estava me fodendo pra tirar da cabeça. Ao final das contas acabei trocando uma Ângela por outra. Geralmente costumo ser passivo a essas condições que a vida me impõe e dessa vez não foi diferente. Ao menos me surgiu uma ótima idéia pra o meu próximo conto, onde um “serial killer” estupra e mata mulheres. O curioso é que todas tinham o mesmo nome, Ângela.
Nunca fui de me cobrar quando minha mente não cuspia idéias relevantes para minhas histórias, mas agora era diferente. Com um contrato numa revista semanal tinha a obrigação de escrever ao menos dois contos por semana para que a editora escolhesse um a ser publicado. Condição essa que não estava mais suportando, pois nunca tive problemas com bloqueio mental e não sabia como lidar com essa praga.
Durante uma hora e meia perambulei pela casa só de me de meias, escorregando os pés na cerâmica lisa. Esse sempre foi meu passa-tempo predileto. Alguns bebem, outros se masturbam, eu gostava de andar só de meias pela casa para relaxar, mas a dor de cabeça não passava e a cabeça martelava outros problemas infames. Foi quando o telefone tocou. Não atendi, poderia ser alguém indesejado, aliás, naquele momento qualquer pessoa seria indesejada. Esperei cair na secretária eletrônica.
Olá, aqui e da casa do Mauro, agora não posso conversar. Esse aparelho vai emitir um piii, deixa teu recado logo após ok?! Piii... Mauro sou eu, Ângela. Tenho pensado muito na gente. Não deveria ter sido assim, sabe? Ainda te quero. Um beijo.
Não senti a mínima vontade de atender ou de retornar a ligação. Ângela era uma mulher linda e inteligente com quem eu namorei por dois anos, mas a relação acabou ficando muito séria pro meu gosto. Ciúmes e possessividade foram os principais motivos para eu ter dado um basta nessa história. Assim como o meu conto, não foi um final dos mais criativos. Não sei direito o que sinto por ela e talvez eu possa me arrepender de ter feito isso. Me recusei a pensar no assunto, mas essas coisas são como um apelido indesejado que colocam em você, quanto mais você retruca mais ele pega. Dito e feito. Passei mais um bom tempo tentando me distrair. Coloquei um disco dos Doors, mas boa parte das músicas me lembrava Ângela. Analisando friamente, quase tudo no meu apartamento me trazia uma lembrança dela e essas lembranças iam aderindo em mim cada vez mais. Os objetos na estante, os discos de Vinicius, o incenso de ópio que eu adorava... Foi ai que me veio à vontade de ligar pra ela, ouvir sua voz, convida-la pra fazer amor pelo telefone. Me senti ridículo tentando superar a saudade com um momento de prazer mórbido que talvez só piorasse as coisas.
As paredes me sufocavam e me levaram a sair de casa às onze da noite, coisa que eu nunca faço. Peguei um táxi que seguiu sem destino certo. O rádio estava sintonizado numa estação tipo Antena 1 e tocava um flashback dos anos 80. Me senti um pouco mais tranqüilo observando a cidade que passava rapidamente diante dos meus olhos. Reparei que o taxista me olhava constantemente pelo espelho retrovisor então decidi parar quando ele passava pelo centro.
Já não havia muita gente nas ruas e a cidade se apresentava hostil com quem andava por ali. Talvez só eu percebesse isso, pois naquela rua só havia bêbados punks e putas. No fim da rua havia um bar chamado “Ateu”, gostei do nome e decidi entrar.
O ambiente contrastava com o meu visual nerd. Todos ali pareciam estar fantasiados. Jaquetas de couro e cabelos moicano eram a ultima moda no local, mas incrivelmente o som ambiente era um blues, o que me agradou de cara. Sentei numa das mesas de madeira nos fundos e pedi uma cerveja. Esperei observando os detalhes do lugar. Era um pub à brasileira, com sinuca e fliperama, mas tudo bem meia boca.
Depois da segunda cerveja eu já estava totalmente adaptado ao ambiente. Aqueles adolescentes cheios de piersings e tatuagens já não me causavam receio e até reparei que havia algumas garotas interessantes. Me arrependi de não ter telefonado para algum amigo, convidando-o para beber e conversar. Nunca fui de beber sozinho.
Fiz sinal para o garçom, pedindo mais uma. Não demorou para trazer. Disse a ele que ficasse de olho na mesa, ia mijar e voltava logo. O banheiro era um cubículo fétido, cheio de desenhos e pichações. Nenhuma surpresa. Mijei de olhos fechados curtindo o prazer do momento. Ao terminar olhei para o meu pinto despejando as ultimas gostas. Estava murcho e sem graça, rodeado de pelos enormes que Deus sabe quando foram aparados. Ah Macgyver eu queria te tratar com mais carinho, te dando comida todos os dias, mas isso é uma coisa que não depende só de mim, amigo. Macgyver é o nome do meu pinto. Batizei-o inspirado no protagonista de uma série americana dos anos 80 chamada Profissão perigo. Vocês bem que devem se lembrar. Acho que esse nome tem tudo a ver com ele, pois não consigo trepar com camisinha o que torna o trabalho do meu amigo desossado uma profissão de risco.
Ao sair do banheiro notei de longe que a minha mesa estava ocupada. Era uma mulher sozinha. Caminhei lentamente a fim de encontrar o garçom no caminho e transferir a responsabilidade para ele, mas ele parecia ter evaporado. Me aproximei lentamente simulando certa distração. Me desculpe, eu estava sentado aqui, só levantei para ir ao banheiro. Ela estava de cabeça baixa acendendo um cigarro e demorou um pouco para demonstrar reação. Fiquei pensando se não fui um tanto rude com as palavras. Ela levantou seu rosto e me olhou sorrindo. Achei muito interessante seus traços orientais, cabelos muito escuros, longos e lisos e rosto afilado. Não tinha uma cara chata e redonda que a maioria das orientais tem. Ai desculpa, é que o bar ta lotado, sentei aqui pensando que você tinha ido embora. Agora vou penar pra achar um lugar pra sentar.
Me agradava muito à possibilidade que o acaso me dera de me unir àquela garota para conversar, flertar e quem sabe até por o Macgyver em mais uma missão arriscada. Mas a minha timidez me impedia de propor que dividíssemos a mesma mesa, então fiquei sem ação, com uma cara de “e agora?”. Foi aí que ela tomou a iniciativa, dizendo que só iria tomar um drink pra relaxar depois do trabalho. Perguntou se era muito incomodo pra mim que sentássemos juntos, com um sorriso irresistível no rosto.
Sentei ao seu lado meio temeroso, pois não queria demonstrar que estava altamente satisfeito com aquela condição. Enchi meu copo e ofereci-lhe cerveja. Ela negou simpaticamente, dizendo que o garçom estava vindo com seu Martini. Não demorou e ele trouxe o Martini servido numa taça afunilada com um guarda-chuvinha. Quando saia olhou pra mim com um sorriso sacana, demonstrando que percebeu toda a situação, o que me levou a desconfiar que até pudesse ter responsabilidade pelo acontecido. Não resisti e retribuí com uma piscadela.
Antes que o silêncio se tornasse insuportável ela começou: Nunca te vi por aqui antes. É a primeira vez que você vem aqui, certo? Sim, entrei aqui por acaso. Gostei do nome do bar. Terminei a frese com um sorriso amarelo de vergonha, ela poderia ser religiosa e essa seria a minha primeira bola fora da noite. Também acho bem descolado esse nome. Dar um ar comunista no ambiente. Concordei com a cabeça. Então você freqüenta o local há muito tempo? Perguntei. É eu trabalho por aqui. Sempre que posso venho aqui pra relaxar. Aqui sempre toca música boa e o pessoal apesar de se vestir estranho é super tranqüilo.
Uma oriental comunista que bebe sempre depois do trabalho e curte blues, me parecia muito bom para ser verdade. A conversa começou a fluir com mais facilidade e aos poucos fui me soltando, também pela influência do álcool. Ela vestia uma blusa branca grudada no corpo que marcava o formato do seu sutiã meia taça e uma mini-saia de couro preta, muito sexy. Sempre que ela vacilava, eu passava a vista em suas coxas. Eram brancas e bem torneadas, uma delicia de se ver.
Demorou até que veio a pergunta clássica: O que você faz da vida? O tipo de pergunta que as pessoas fazem pra saber se você tem grana ou não, se merece respeito ou desprezo. Apesar dela ser uma graça não pude evitar o sarcasmo. Bem, eu faço tanta coisa. Penso, ando, durmo, transo, bebo, escrevo contos pra uma revista semanal entre outras coisas. Ela foi sagaz e me surpreendeu em duas coisas: não deu a mínima para a palavra “transo” que coloquei no meio dos meus afazeres de propósito, só pra ver a sua reação e percebendo que eu era escritor foi logo ao assunto grana sem rodeios. Eu sempre admirei quem tem o dom de escrever, mas, aqui pra nós, isso da grana bicho? Dei um longo gole na cerveja a fim de adiar pelo menos por alguns instantes a resposta. Vou ser sincero, nunca tive o sonho de escrever profissionalmente, nunca me vi lançando livro e dando palestras mundo a fora não, talvez por isso esteja satisfeito com o retorno financeiro que a literatura me da. Não sou formado em letras e escrever pra mim sempre foi um prazer, considerando isso, me sinto bem feliz por viver do que gosto de fazer. Dei outro gole longo na cerveja, satisfeitíssimo com o meu desempenho. Ela sorriu confirmando meu êxito. Deu-me um beijo no rosto e disse: pera vou ao banheiro.
Macgyver é hoje!! Puta merda, tirei a sorte grande! Nessas horas eu tendo a acreditar que esse lance de destino existe mesmo. Em circunstâncias normais eu nunca entraria num lugar como aquele, a vida é uma comédia mesmo. Tomei nota mental, reparar em seu corpo quando caminhasse de volta a mesa. De fato era linda, mais ou menos 1, 68 de altura e com um andar muito feminino. O jeito de andar é tudo pra mim.
Sentou-se e prendeu os cabelos deixando a mostra seu pescoço. Tinha um símbolo que supus ser japonês tatuado. O que significa? Perguntei. Prazer! Ela disse. Acariciei o símbolo sentindo sua nuca morna. Ela se agitou quando ouviu que tocava uma música da Billie Holiday. Isso merece um aditivo! Colocou a mão dentro da bolsinha de couro e tirou um baseado. Você curte? Eu não fumava desde os tempos de colégio, mas estava disposto a tudo naquela noite. Disse que sim, então ela acendeu.
Ela fumou um pouco e passou pra mim. Dei uma tragada potente e me lembrei da coisa que eu mais odiava na maconha, que eram as crises de tosse. Soltei toda a fumaça, tossi bastante até os olhos lacrimejarem. Ela soltou uma tremenda gargalhada, me fazendo sentir como um adolescente babaca. Deu vontade de me enterrar num buraco e nunca mais vir à tona.
Você conhece a “Peruana”? Respondi que não em meio às tosses. Eu dou um trago e solto direto na sua boca, assim você faz a cabeça e não vai tossir mais. Quer tentar? Respondi que sim com a cabeça, mesmo sem ter certeza se queria de verdade aquilo. Ela deu um longo trago, levou as mãos em forma de concha a sua boca e encostou na minha. Nossos lábios estavam separados somente pelas suas mãos. Eu podia sentir o seu perfume doce e o ritmo da sua respiração enquanto a fumaça divina adentrava os meus pulmões me trazendo uma sensação de paz absoluta. Aos poucos suas mãos foram desobstruindo o caminho que separava os nossos lábios e o contato foi se transformando em um beijo lento, macio e molhado.
Nossas línguas pareciam intimas, pois se moviam com tamanha sincronia, dançando juntas ao som do jazz. De quando em quando ela mordia de leve o meu lábio e o beijo rasteiro foi ficando mais profundo e agressivo. Acariciei com a ponta dos dedos as suas coxas enquanto ela me alisava as costas por debaixo da camisa. Coloquei a mão lentamente entre as suas pernas que se abriram amigavelmente e então fui me aprofundando até tocar o seu clitóris por cima da calcinha úmida. Ficamos assim por um tempo nos acariciando até que ela me apertou e eu pude sentir um leve tremor de suas pernas. Sua língua nesse momento foi fundo dentro da minha boca, então me abraçou forte com a cabeça encostada no meu ombro. Pareceu adormecer por cinco minutos inteiros.
Depois disso não houve dúvida. Pagamos à conta e pegamos o primeiro táxi com destino ao meu apartamento. Fomos o caminho inteiro nos beijando com fervor. Ela ria e continuava mais empolgada ao notar a expressão de espanto do taxista com cara de judeu.
Nem deu tempo de passar o pega-ladrão na porta e ela já foi me arrancando a camisa. Soltei as chaves no chão e ocupei as minhas mãos com as suas nádegas macias e fartas. Arrancamos mutuamente nossas roupas, sedentos por um contato direto dos corpos. Deitei-a no tapete da sala de estar, lambendo seu pescoço suado e acariciando seu clitóris levemente com o meu pênis. A vontade de consumar o ato perdeu para a curiosidade de explorar o seu corpo milímetro por milímetro, então desci mais e lambi carinhosamente seus seios. Eram perfeitos, cabiam perfeitamente na palma da minha mão. Os mamilos eram pequenos, mas proeminentes. Fartei-me nessa que era a minha parte preferida do seu corpo.
Tive a idéia de experimentar uma técnica oral que desenvolvi com Ângela e que ela ficava louca toda vez que eu a colocava em prática. Então desci lentamente até a sua vagina dando um profundo e molhado beijo de língua, fazendo com que o seu corpo se contorcesse liberando um gemido rouco, depois parti para as periferias, lambendo a virilha, as coxas e a barriga, sempre de tempos em tempos ameaçando um outro beijo profundo em sua vagina. Às vezes encostava minha boca a um centímetro do seu membro e a fazia sentir a minha respiração ofegante a ponto dela implorar por outra chupada, mas a técnica consistia em não ceder a esses apelos até o momento crucial. Então no momento certo enfiei minha língua dentro dela, fazendo-a liberar um gozo pleno. Agora sim, Macgyver tinha o Japão inteiro para explorar à vontade. E assim foi até as cinco da manhã quando pegamos no sono, satisfeitos.
Acordei com a luz do sol no meu rosto. Levantei sem norte, mas logo percebi que estava só. Examinei os outros cômodos para ter certeza e de fato ela já havia partido. No espelho do banheiro encontrei uma mensagem curta escrita com batom vermelho:
“Bom dia meu lindo, adorei a noite, mas infelizmente acho que foi a nossa primeira e única juntos. O que fiz com você ontem normalmente faço por dinheiro. Com você foi diferente, mas prefiro não me envolver. Se cuida. Beijos da sua Ângela.”
Ao final da mensagem não sabia se ria ou se chorava. Havia me apaixonado por uma prostituta com o mesmo nome da mulher que eu estava me fodendo pra tirar da cabeça. Ao final das contas acabei trocando uma Ângela por outra. Geralmente costumo ser passivo a essas condições que a vida me impõe e dessa vez não foi diferente. Ao menos me surgiu uma ótima idéia pra o meu próximo conto, onde um “serial killer” estupra e mata mulheres. O curioso é que todas tinham o mesmo nome, Ângela.