A violência sem a palavra “sangue”
Naquela noite não havia lua, nem um instinto prévio que me fizesse caminhar por aquelas ruas escuras. Não estava frio, o meu corpo, porém o hálito gélido que exalava das sarjetas me remetiam aos lúgubres jardins por onde andara em episódios remotos de minha jornada falsa.
Meus conflitos inevitáveis e minhas respostas nada conclusivas me enchiam ainda mais de curiosidade, por isso ainda estava lá. Procurando pelo amigo inesperado ou pela bela dama dos meus sonhos. Não era evidente a minha tortura, pelo contrário, me fazia passar despercebido por entre os cavalheiros e seus chapéus, pelas senhoras e pelos garotos que não notavam o iminente silêncio que as esquinas negras emanavam.
Sabia eu ter sido alvo de acusações infundadas e teria que pagar o preço por não ter sido sagaz o suficiente para me esquivar de todo aquele veneno. Prometi não olhar para tras, pois suspeitei estar sendo perseguido. Continuei e depois de certo tempo não tinha mais idéia de onde estava. Tudo estava fora de ordem, meus jornais e diários não eram mais só meus e minhas palavras agora eram o motivo principal de minha desventura.
Pego-me surpreso com a claridade em meu rosto, atordoado como quem acorda de um sonho, na rua agora clara. No chão mesmo. O velho faminto, com suas luvas encardidas me olha e estende a mão. Reticente.
Logo que me pus de pé, torno a cair na inevitável duvida: delírio ou verdade? Minha mente só pedia o negro e a vergonha me furava os calcanhares. Enclausurei-me aflito no escuro de meu quarto a fim de cavar ainda mais fundo para que ninguém mais encontrasse.
Por muitos dias eu fiquei pensando, procurando a melhor saída para que esse golpe me doesse menos, travestido meus medos e relevando as evidências mais claras do meu suposto erro. Eu não aceitava a idéia de que essa balburdia que me irrompeu a rotina pudesse em fim delatar a minha contida nobreza e corria agora contra o tempo, que sempre tive como mais terno amigo.
Caminhando com a culpa nos braços, pelas mesmas ruas de outrora, mas agora severamente notado por aqueles por quem passei despercebido na noite anterior. Seria eu o verdadeiro culpado dessa barbárie infundadamente atirada sobre meus ombros? Como poderia eu, tão jovem ter caído nos braços desse demônio chamado amor?
3 Comments:
Amor... Ah, esse demônio não tem idade!
Grande beijo
entonces fudeu, baby...mas pelo menos o amor te inspira...e como!!!
lindo! lindo!
meio tragido, mas e so ficção..
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